A Terra é coberta por um oceano global, com ecossistemas e processos que transcendem as fronteiras nacionais. A ciência oceânica e sua tradução em ações baseadas no conhecimento devem ser desenvolvidas de forma coordenada internacionalmente para corresponder à escala do oceano e às suas necessidades de gestão. Isso é cada vez mais urgente, visto que os impactos das mudanças climáticas, das crescentes fontes de poluição e de outras causas de destruição de habitats continuam a ameaçar a sustentabilidade do fornecimento de alimentos, da mitigação climática, do significado cultural, da recreação e muito mais.
As Nações Unidas estão a convocar uma comunidade global na terceira iteração da Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano para apoiar a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 com o objetivo de "acelerar a ação e mobilizar todos os atores para conservar e usar o oceano de forma sustentável". Fazer o melhor uso da ciência disponível e comprometer-se a expandir ainda mais esse conhecimento é fundamental para as discussões da conferência, a fim de apoiar políticas baseadas em evidências e estruturas de governança destinadas a gerenciar os recursos oceânicos de forma sustentável.
O Comitê Científico de Pesquisa Oceânica (SCOR) é uma organização não governamental e sem fins lucrativos, fundada pelo Conselho Internacional de Uniões Científicas (antecessor do Conselho Internacional de Ciências) em 1957, com o objetivo de servir como meio de coordenação internacional e interdisciplinar em ciências oceânicas. Isso inclui o desenvolvimento de capacidade científica em todo o mundo para que a ciência reflita a natureza global do oceano. Atualmente, 32 comitês nacionais compõem a composição dos membros que ajudam a definir as atividades do SCOR, facilitando sua capacidade de servir como um fórum que eleva a voz dos cientistas.
A ciência oceânica é inerentemente global e SCOR é o instrumento pelo qual as boas ideias locais neste campo se tornam globais. – Comitê de Planejamento e Revisão Científica do ICSU, 20031
SCOR tem apoiou 172 grupos de trabalho2 desde a sua criação para abordar desafios metodológicos e conceituais e incentivar o progresso em uma área científica específica. O SCOR também apoia grupos de cientistas para desenvolver prioridades e coordenar esforços de pesquisa em larga escala,3 e projetos de infraestrutura4 que organizam cientistas em torno de estruturas de suporte para pesquisa, como gerenciamento de dados, observações ou modelagem e recursos estatísticos.
Essas redes aprimoraram a capacidade dos cientistas de monitorar, compreender e prever o oceano, o que é necessário para subsidiar a gestão baseada em evidências e possibilitar descobertas futuras. Como exemplo ilustrativo, a previsão e o monitoramento de florações de algas nocivas (FALs) para minimizar a exposição humana a frutos do mar contaminados, entre outros impactos, exigem uma compreensão precisa dos fatores ambientais que influenciam a distribuição e a dinâmica das FALs, métodos técnicos para identificação de espécies e toxinas, e estudos sobre o modo de ação das toxinas — campos de estudo que têm sido incentivados pelo projeto IOC-SCOR GlobalHAB por meio de coordenação internacional, incluindo workshops, treinamentos técnicos e atividades de pesquisa aprovadas.5
Lacunas de conhecimento: Grande parte do oceano continua sendo uma fronteira inexplorada, e o oceano e seus ecossistemas estão prestes a mudar drasticamente de maneiras que ainda são difíceis de prever.6 Através do SCOR, as redes internacionais conceberam uma forma de abordar de forma mais eficaz as lacunas no conhecimento sobre os ecossistemas de águas profundas,7 a distribuição de gases com efeito de estufa na parte superior do oceano,8 e prioridades observacionais para compreender os impactos climáticos no Oceano Antártico,9 como alguns exemplos.
Adoção de políticas: Continua a existir uma desconexão entre ciência e política. O SCOR sempre apoiou abordagens interdisciplinares que refletem a complexidade do ambiente oceânico, e agora projetos de grande escala estão cada vez mais incentivando abordagens transdisciplinares que incluem campos de pesquisa socialmente relevantes e a contribuição de tomadores de decisão e membros da comunidade para melhorar a aplicabilidade dos resultados científicos a contextos de gestão.10
Capacidade global: As disparidades globais persistem na capacidade de contribuir para a pesquisa oceânica internacional. O SCOR realiza diversas atividades de capacitação11 Para ajudar cientistas individuais e suas instituições a desenvolver suas habilidades e redes. Para ter um impacto duradouro, tais esforços precisam ser reforçados pelo apoio nacional à pesquisa e infraestrutura, incluindo o compartilhamento de recursos entre os países e o desenvolvimento de tecnologias acessíveis.
Os investimentos em ciência oceânica rendem frutos por meio da nossa capacidade de gerir o oceano de forma a sustentar tanto os ecossistemas oceânicos quanto os meios de subsistência humanos a longo prazo. A condução dessa ciência de forma coordenada globalmente amplia o valor dos investimentos individuais, garantindo que os dados coletados sejam abrangentes e comparáveis, que soluções para desafios metodológicos compartilhados sejam amplamente disponibilizadas e que estudos relevantes para políticas públicas sejam desenvolvidos e distribuídos de forma equitativa.
O SCOR continuará a facilitar colaborações e a desenvolver capacidade para enfrentar nossos desafios globais e convida todas as nações e cientistas individuais a contribuir e participar desse esforço.
1 https://council.science/wp-content/uploads/2017/05/ICSU_PAA_REPORT.pdf
2 https://scor-int.org/work/groups/
3 https://scor-int.org/work/research/
4 https://scor-int.org/work/infrastructure/
5 GlobalHAB, 2017. Florações globais de algas nocivas, ciência e plano de implementação. E. Berdalet et al. (orgs.). SCOR e IOC, Delaware e Paris, 64 pp.
6 COI-UNESCO. 2024. Relatório sobre o Estado do Oceano. Paris, COI-UNESCO. (Série Técnica do COI, 190). https://doi.org/10.25607/4wbg-d349
7 Howell, KL, Hilário, A., Allcock, AL, Bailey, DM, Baker, M., Clark, MR, Colaço, A., Copley, J., Cordes, EE, Danovaro, R., Dissanayake, A., Escobar, E., Esquete, P., Gallagher, AJ, Gates, AR, Gaudron, SM, German, CR, Gjerde, KM, Higgs, ND, … Xavier, JR (2020). Um Projeto para um Programa de Campo Inclusivo e Global para a Década do Oceano Profundo. Frontiers in Marine Science, Volume 7-2020. https://doi.org/10.3389/fmars.2020.584861
8 Bange, HW, Mongwe, P, Shutler, JD, Arévalo-Martínez, DL, Bianchi, D, Lauvset, SK, Liu, C, Löscher, CR, Martins, H, Rosentreter, JA, Schmale, O, Steinhoff, T, Upstill-Goddard, RC, Wanninkhof, R, Wilson, ST, Xie, H. (2024). Avanços na compreensão das trocas ar-mar e da ciclagem de gases de efeito estufa na camada superior do oceano. Elementa: Ciência do Antropoceno 12(1). https://doi.org/10.1525/elementa.2023.00044
10 van Putten, I., Kelly, R., Cavanagh, RD, Murphy, E.J., Breckwoldt, A., Brodie, S., Cvitanovic, C., Dickey-Collas, M., Maddison, L., Melbourne-Thomas, J., Arrizabalaga, H., Azetsu-Scott, K., Beckley, LE, Bellerby, R., Constable, A.J., Cowie, G., Evans, K., Glaser, M., Hall, J., … Xavier, JC (2021). Uma década de incorporação das ciências sociais no Projeto Integrado de Pesquisa da Biosfera Marinha (IMBeR): Muito feito, muito a fazer? Frontiers in Marine Science, 8, 662350. https://doi.org/10.3389/fmars.2021.662350
11 https://scor-int.org/work/capacity/
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