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Resumo da política/nota consultiva

Responsabilidades por prevenir, evitar e mitigar danos aos pesquisadores que realizam trabalho de campo em ambientes de risco

Pesquisadores de muitas disciplinas científicas se envolvem em trabalho de campo, às vezes em ambientes desconhecidos, remotos ou arriscados, em tópicos delicados ou em ambientes sociais ou políticos instáveis. Esta Nota Consultiva busca aumentar a consciência de que o risco elevado é uma característica de muitas pesquisas de campo, e que a consciência de risco, avaliação e mitigação de riscos no campo precisam ser estratégicas e partes integrantes do desenho e implementação da pesquisa, tanto a nível institucional como individual . Isso apóia a liberdade e a responsabilidade na condução da pesquisa.

O trabalho de campo precisa de atenção especial porque os pesquisadores são menos propensos a trabalhar dentro de suas redes familiares e estruturas de apoio, muitas vezes terão controle reduzido sobre o cenário da pesquisa e podem desconhecer questões políticas locais e outros riscos potenciais não diretamente relacionados à sua pesquisa.

A realização de trabalho de campo em locais desconhecidos e de risco oferece potencial para danos físicos e psicológicos. De fato, muitos relatos recentes de danos a pesquisadores, incluindo assédio, ameaças, prisão e até morte, durante o trabalho de campo, aumentaram a conscientização sobre os riscos que devem ser considerados. A comunidade de pesquisa tem a responsabilidade de desenvolver procedimentos, estratégias e recursos para auxiliar pesquisadores e suas instituições na identificação e avaliação de riscos e na implementação de procedimentos para minimizar e mitigar possíveis danos aos pesquisadores que realizam trabalho de campo.

Aumentar a conscientização sobre as responsabilidades de prevenir, evitar e mitigar o risco do trabalho de campo promove ambientes mais seguros e protegidos para os pesquisadores e, portanto, colaborações mais eficazes. Não deve prejudicar a cooperação internacional; colaborações internacionais e interdisciplinares se beneficiarão de uma maior comunicação direta e de uma abordagem explícita para lidar com o risco do trabalho de campo. Isso ocorre porque a conscientização sobre o risco e a implementação de práticas de avaliação e mitigação de risco no trabalho de campo variam entre os domínios de pesquisa e instituições de pesquisa e entre os pesquisadores.

Esta Nota Consultiva fornece conhecimento básico das questões críticas que precisam ser consideradas e complementa as obrigações legais, outras orientações existentes e as melhores práticas aceitas. Ele orienta instituições (por exemplo, academias, agências de fomento, universidades, instituições de pesquisa), supervisores de pesquisa e pesquisadores, sobre suas responsabilidades e ações.

As instituições têm a responsabilidade de levantar questões de risco com sua comunidade de pesquisa, desenvolver estratégias de prevenção de riscos, implementar protocolos de segurança, treinar equipes de pesquisa e pesquisadores nesses protocolos antes de realizar o trabalho de campo, assumir um papel diretivo na supervisão das configurações em que trabalham os seus investigadores, e assegurar um dever de zelo para com os investigadores estudantes.

Descrição dos Tipos de Risco1 e danos

Esta Nota Consultiva usa as seguintes taxonomias não exaustivas como uma ilustração parcial dos tipos de fatores importantes para a avaliação de risco e estratégias de mitigação.

Taxonomia de risco

  • Riscos relacionados a um tópico de pesquisa: Exemplos incluem pesquisas sobre atividades ilegais; atividades politicamente voláteis; atividades socialmente sensíveis;
  • Riscos relacionados a uma configuração: Os exemplos incluem pesquisas em áreas com altos níveis de violência (crime violento; violência aleatória; crime organizado; violência estatal; violência doméstica; zonas de conflito); pesquisa em áreas com altos níveis de violência pessoal ou sequestro; pesquisa em áreas pós-conflito (por exemplo, minas terrestres); ou pesquisa em áreas com falta de higiene ou infraestrutura;
  • Riscos relacionados à pessoa: Exemplos incluem vulnerabilidade pessoal devido à identidade do pesquisador, incluindo raça, idade, orientação sexual, gênero, nacionalidade, idioma, casta ou religião;
  • Riscos relacionados às percepções da motivação da pesquisa: Exemplos incluem a suspeita ou dúvida entre a população ou autoridades locais sobre a motivação primária ou afiliação política do pesquisador.

Taxonomia do dano

  • Dano físico Os riscos relativos a danos físicos enfrentados por pesquisadores envolvidos em pesquisas “delicadas”, como contextos ilegais ou criminosos, em contextos politicamente voláteis ou de conflito, ou em locais remotos variam de deficiência física a ataques físicos a ferimentos ou até mesmo a morte.
  • Dano psicológico Os pesquisadores também enfrentam riscos de danos psicológicos devido à exposição a ameaças físicas ou pessoais ou à exposição ao sofrimento ou trauma de outras pessoas.

Orientação para recursos e procedimentos de mitigação

A mitigação do risco físico inclui treinamento em estratégias de prevenção e desenvolvimento de planos específicos para ações de proteção ou saída; contatos regulares de “base de toque”; e apoio da Embaixada. Uma consciência da natureza “crítica do tempo” das respostas planejadas é essencial.

A mitigação do risco psicológico inclui treinamento em estratégias para abordar e lidar com situações psicologicamente angustiantes. Isso pode incluir treinamento em gerenciamento de conflitos e desenvolvimento de recursos a serem usados ​​em resposta a encontros traumáticos.

A mitigação de riscos requer um bom conhecimento dos recursos disponíveis no nível institucional, de departamento e do pesquisador individual, e habilidades na implementação de estratégias de prevenção e mitigação de riscos.

Os procedimentos de mitigação de risco podem ser desenvolvidos em nível de instituição, equipe de pesquisa e pesquisador individual.

Em Nível Institucional:

As instituições devem ter um papel de liderança na promoção de um clima de atenção ao risco e na garantia de práticas seguras para seus pesquisadores e filiados, como estagiários e visitantes. Isso pode incluir:

  • Especificação clara dos papéis e responsabilidades dos supervisores e pesquisadores no atendimento às questões de segurança;
  • Fornecimento padronizado de informações e adesão aos protocolos de segurança;
  • Garantir que as obrigações legais institucionais sejam conhecidas e cumpridas;
  • Desenvolvimento de um código de prática para evitar riscos;
  • Reconhecimento de que os procedimentos de mitigação de risco são um custo legítimo no processo de orçamento de pesquisa;
  • Promoção e facilitação do desenvolvimento de parcerias e redes locais para mitigação de riscos em colaborações internacionais;
  • Exigir que a prevenção e a mitigação de riscos apropriadas sejam incluídas nos currículos de pesquisa.

No Supervisor de Pesquisa/Nível Departamental

Os supervisores de pesquisa e os professores disciplinares precisam garantir que as equipes de pesquisa sigam os padrões institucionais de melhores práticas. Além disso, os supervisores precisam encorajar uma ética de pesquisa que valorize a avaliação de risco e a prevenção adequadas. Isso inclui:

  • Dar atenção ao risco como parte do treinamento de graduação e pós-graduação em desenho e metodologia de pesquisa;
  • Garantir que cada proposta de pesquisa seja baseada na reflexão e feedback dos pares sobre os riscos do projeto e estratégias para abordá-los, se relevante; e que quaisquer projetos ou manuais específicos de trabalho de campo incluam uma seção sobre riscos refletindo sobre questões específicas;
  • Garantir que os pesquisadores de campo entendam e estejam cientes de suas obrigações legais e não legais, a fim de evitar riscos sempre que possível e mitigá-los quando necessário.

No nível de pesquisador individual

Cada pesquisador deve aumentar sua sensibilidade e consciência para o risco e compreender que muitas vezes é específico do contexto e da situação. No planejamento de projetos de pesquisa em cenários ou contextos potencialmente arriscados, os pesquisadores precisam abordar o seguinte:

  • Planejamento para segurança no desenho da pesquisa, incluindo recursos e estratégias para mitigação de riscos;
  • Estabelecer protocolos e orientações claras para diversas situações de risco, incluindo planos para manter a comunicação (por exemplo, uma chamada diária definida com hora marcada, porque o tempo é muitas vezes crucial em situações de risco); para garantir estratégias de saída; por estabelecer apoio/colaboração para não trabalhar sozinho sempre que possível; e por avaliar antecipadamente o risco em situações específicas;
  • Estabelecer com antecedência contatos locais confiáveis ​​e bem informados sobre as situações locais, tanto políticas quanto culturais, e que podem identificar áreas e tipos de risco potenciais;
  • Incluindo avaliação de risco e precauções como parte do protocolo e orçamento de implementação da pesquisa.

1 Ao escrever esta nota, o CFRS reconhece que a pesquisa também envolve risco potencial para os participantes da pesquisa (no caso de ciências comportamentais ou sociais ou pesquisa médica), para as comunidades, para a biosfera ou para a estabilidade ecológica. Esta nota, no entanto, é focada em danos ao pesquisador, não aos objetos de pesquisa.

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